LIVROS DO ROMEO

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Coletânea de obras célebres e outras publicações do Romeo

terça-feira, 29 de agosto de 2017

A MAIS COMPLETA HISTÓRIA DA MORTE DE JOANNA D'ARC



Escrita por Júlio Michelet. 
Esta parte foi retirada da História da França.
Aqui você terá a oportunidade de conhecer, em detalhes, como ocorreu o crime mais horrendo e cruel da Igreja cristã contra a jovem guerreira, temente a Deus e fiel à sua crença, seu povo e seu rei que a abandonou, deixando-a entregue à própria sorte. 
A história foi escrita pelo famoso historiador francês  Júlio Michelet.
BREVE BIOGRAFIA 
                Júlio Michelet, eminente historiador francês, nasceu em Paris a 21 de Agosto de 1798 e morreu em Hyères a 9 de fevereiro de 1874. Começo os seus estudos literários tendo como guia um velho livreiro, e nos momentos de folga ajudava seu pai, que era tipógrafo. Esteve no Colégio Charlemagne, e em 1821 alcançou as mais altas honras da Universidade, tendo sido nomeado então professor de história no colégio Rollin, 1821 - 1826. Foi nomeado lente da Escola Normal em 1827, e começou os seus famosos cursos de história no Colégio da França em 1838. Publicou entre outras obras: Histoire de France -em 16 volume, 1833 - 1867; Histoire de la Révolution Française, 1847 - 1853; La femme et la famille, 1844; l'Etudiant, 1848;  L'Oiseau, 1856;; L'Amour, 1859; La femme, 1860; La mer, 1861; La Montagne,1868; Ma Jeunesse, 1884; Mon Journal, 1888, etc. Publicou também, em 1929, uma tradução de obras escolhidas de Vico. Nos últimos tempos, (sob a impressão dos acontecimentos de 70 - 71) empreendera a publicação duma Histoire du XIX Siecle.


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JOANA D'ARC E A GUERRA DOS CEM ANOS 
               A história de Joana D'arc é parte da história de uma guerra que perdurou cem anos, entre a França e a Inglaterra, a partir de 1337. Não se trata propriamente de uma guerra entre dois povos constituídos em nações nitidamente diferenciadas; muitos "ingleses" eram normando, isto é, franceses que chegaram à Inglaterra com Guilherme, o Conquistador, em 1066, por outro lado,muitos "franceses" eram bretões, isto é, ingleses habitando há muito tempo o norte da França. 
            Seja como for, os ingleses obtiveram em 1415 uma vitória decisiva e, por um tratado assinado em Troyes, metade da França passou para o seu domínio, ou melhor, para o domínio de Henrique V, rei da Inglaterra, ficando a metade francesa sob o governo de Carlos VI.
              Morrendo Carlos VI, foi coroado rei da França o filho Henrique V, um inglês, portanto. Para os franceses, porém, rei mesmo era Carlos VII, filho do falecido monarca. Entre os franceses que não aceitavam o domínio inglês estava a camponesa Joana. 
              Os pais de Joana criaram-na rigorosamente segundo os princípios da fé católica. E, aos 12 anos, a menina teria tido sua primeira relevação divina: brincando com as amiguinhas, ouviu de repente uma voz: "Ide, e tudo será feito segundo as vossas ordens". A partir daí, a vida de joana mudou. Por onde andasse, as vozes acompanhavam-na, ordenando, sugerindo, encorajando: "é preciso expulsar os ingleses da França".  
         Joana acreditou na voz e na ordem. E foi à côrte de Carlos VII, que ainda não era oficialmente considerado rei, mas apenas herdeiro do falecido rei Carlos VI. Foi procurar Carlos; e lá chegando foi recebido pelo capitão e lhe disse: "Deus fez-me ouvir Sua voz e ordenou que eu salvasse a França e expulsasse os invasores ingleses deste território. Devo encontrar-me imediatamente com o nosso verdadeiro rei Carlos II; peço-vos que me leves à sua presença." O capitão não acreditou na camponesa Joana e demorou cerca de um ano até levá-la à presença de Carlos, mas finamente foi conduzida sob escolta até Carlos. Diante de Carlos e este quis testá-la e indicando um dos seus ministros disse: "Eis o seu rei, fale com ele." Joana sequer o olha e diz-lhe "Em nome de Deus, vós sois o rei! Se fizerdes como direi, os ingleses serão expulsos e vós sereis reconhecido por todos como rei da França".  
      Abismado, Carlos sentiu que ali havia um milagre. Pouco depois, nomeou Joana comandante do Exército francês. Era o ano de 1429 e joana só tinha 18 anos. 
             A comandante Joana D'arc levou seu exército de 4.000 homens até às portas de Órleans. Antes de atacar seus inimigos que sitiavam a cidade a seis meses, disse-lhes:  (Voltai a vosso país. Deus assim o quer! O reino da França não os cabe, mas a Carlos! Eu sou enviada de Deus e minha tarefa é expulsar-vos daqui! Deus me dará a força necessária para repelir vossos ataques!" Os soldados ingleses, diante daquela jovem camponesa, caíram na gargalhada ao ouvir tal discurso. Joana não exitou e ordenou ao seu exército francês  que atacasse. 
             O povo de Órlenas, que durante seis meses vivera oprimido e aterrorizado, criou ânimo e também lançou-se à luta. Sentiam que finalmente a França inteira tinha um lider, uma heroína. 
             Após três dias de luta, os ingleses recuaram. Orleans estava livre. Outra cidade importante , Reims , caíra logo a seguir em poder dos franceses. Carlos VII, agora reconhecido legítimo rei da França, foi coroado e consagrado a 17 de julho de 1429 na catedral de Reims. 
             Os ingleses, porém. não tinham sido totalmente expulsos. E Joana decidiu continuar a guerra. Foi aí que se desenhou a tragédia de seu destino. Na batalha de Compiégne, perto de Paris, adversários franceses de Carlos VII conseguiram prendê-la e entregaram-na a seus aliados ingleses. Era chegado o momento da vingança. Organizou-se um tribunal eclesiástico que acusou Joana de herege e praticante de uma magia negra. Disseram que ela era uma bruxa comandada pelo Diabo. Explicam-se as acusações: era preciso mostrar Joana ao povo, não como heroína, mas como uma espécie de anticristo. 
                O processo foi longo e penoso. Joana negou todas as acusações: "Tudo o que fiz foi por ordem de Deus", insistia. Sua firmeza foi inútil. A sentença - condenação à morte - foi promulgada e cumprida. O rei Carlos VII, que por ela foi levado ao poder legítimo, nada fez; estava muito ocupado com questões políticas internas. 
                 Joana D'arc morreu queimada viva, mas sua curta carreira militar, sua figura quase fantástica, criaram no povo francês uma consciência nacional de patriotismo. Seu legado ficou para sempre. Os poucos anos em que a humilde camponesa esteve envolvida naquele conflito, que já perdurava mais de cem anos, marcaram o fim das pretensões territoriais inglesas no território francês. 
                 Começa oficialmente o reinado de Carlos VII, descendente de longa linhagem  de reis franceses. Embora Carlos VII se tivesse mantido calado, o povo francês reconheceu que foi ela quem finalmente criou o verdadeiro Estado Nacional. Joana passou a ser considerada a mártir francesa que perdura até hoje. 
Nicéas Romeo Zanchett 
                
                

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